Na segunda quinzena de março, o bloqueio COVID-19 no Brasil havia acabado de começar. As escolas foram fechadas, e as crianças proibidas de brincar. E de repente, o uso de telas, que até então era considerado o mal da infância, se tornou a única opção de entretenimento. E agora nove meses depois, estamos começando a notar o mal que o isolamento social está fazendo as crianças.

Isolamento social: uma incubadora da solidão para as crianças 

As crianças ficaram especialmente solitárias durante a quarentena. Ainda há muito que os cientistas precisam aprender sobre a solidão, o cérebro e a saúde mental, mas eles sabem que os jovens precisam de socialização para um desenvolvimento saudável. A solidão também está associada à depressão clínica e ansiedade. Embora os efeitos de longo prazo da pandemia COVID-19 sejam desconhecidos, os especialistas recomendam que os médicos se preparem para enfrentar as consequências para a saúde mental de crianças que são separadas de amigos e familiares com quem tinham laços fora de casa.

 A Dra. Rafaella Gato, Cardiopediatra e membro do ECMO Team do Sabará Hospital Infantil já percebe os efeitos do isolamento em seus pequenos pacientes. “As crianças chegam ao pronto-socorro com dores fortes no peito. Após examinadas o diagnóstico é quase sempre estresse emocional e ansiedade. É muito comum recebermos adultos e adolescentes com esse quadro, mas durante a pandemia, a síndrome do pânico tem atingido também as crianças”. A Dra. Rafaella ressalta ainda a importância do brincar e das atividades físicas. “Atividades como natação e tênis são ótimas opções por não demandarem contato físico”. Ainda segundo a Dra. Rafaella, colesterol aumentado e insônia também são outros agravantes detectados em crianças durante a pandemia.

Principais mudanças no comportamento e na saúde da criança durante a pandemia

Estudos de isolamento social em animais roedores oferecem pistas de como esse sofrimento social afeta o cérebro e o comportamento da criança.

A privação social prolongada desregula a produção geral da dopamina, deixando as crianças mais ansiosas, hiperativas, agressivas e com dificuldades de aprendizado e atenção e as principais mudanças no comportamento da criança e também as maiores reclamações dos pais são:

  • Dificuldade em se manter concentrado nas aulas online
  • Sono desregulado
  • Dificuldade em seguir uma rotina
  • Excesso de telas
  • Comportamento agressivo
  • Comportamento hiperativo
  • Distanciamento dos pais
  • Falta de motivação para sair de casa
  • Alimentação inadequada
  • Aumento do colesterol
  • Aumento de sintomas depressivos
  • Aumento de sintomas de ansiedade

A socialização é a chave para o desenvolvimento da criança e do adolescente

Para as crianças, brincar com outras pessoas é uma forma de aprenderem sobre o mundo. Para os adolescentes, é a maneira como eles fazem a transição para a independência. E embora seja imperativo que as crianças mantenham protocolos seguros de distanciamento social e uso de máscaras, existe algumas formas de ajudar a criança a enfrentar essa situação.

Incentive caminhadas ao ar livre

Leve a criança para caminha em lugares abertos. Para os que possuem animais de estimação pode ser mais fácil convencer a criança a caminhar.

Promova brincadeiras ou jogos com os membros da família

Nem sempre pode ser fácil para os adultos dedicar um tempo para brincar, principalmente nesse momento em que muitos estão passando por dificuldades financeira, de saúde ou de incertezas. Mas promover esse momento é importante para o bem-estar mental da criança e do adulto também.

Evite assistir conteúdos sensacionalistas sobre o covid-19

 O papel da mídia originalmente é de informação, no entanto, muitas se aproveitam das situações para ganhar espectadores e ganhar dinheiro com isso. O pânico gera audiência para as redes de tv e gera medo ansiedade a você e sua família.  Pesquise fontes de informação seguras e neutras para se manter informado.

Cobre menos da criança e de você também

O momento não é de perfeição. As aulas online se tornaram verdadeiros pesadelos para as famílias e infelizmente irão se estender para 2021. Tente não se apegar tanto aos conteúdos acadêmicos e foque em desenvolver as habilidades socias que a criança pode aprender nesse momento como resiliência, controle da ansiedade, foco em soluções, empatia, etc.

E por fim, deixo aqui o meu mantra favorito para essa fase pandêmica e incerta. Repita todas as vezes que você se culpar ou se cobrar:  fazer o que dá.


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Juliana Palma

Pedagoga e Ma em Educação. Especializada em Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Análise do Comportamento, Terapia Aba e Altas Habilidades. Acadêmica do curso de Nutrição na Universidade Estácio de Sá. "Descobri o TDAH aos 33 anos e hoje me dedico a ajudar outros adultos na avaliação e na intervenção do transtorno." Atendo de forma online, crianças, adolescentes, adultos e idosos do mundo todo, que buscam superar as dificuldades de aprendizagem nos estudos ou em sua carreira.

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