Quando apareceu meu primeiro paciente adulto solicitando um atendimento psicopedagógico eu fiquei muito animada. Fizemos a entrevista contratual e o enquadramento. Quando o paciente saiu da sala surgiu a dúvida: como eu faria a avaliação e a intervenção de um adulto, uma vez que todas as referências que eu conhecia abordava o atendimento à crianças ou idosos?  

Em primeiro lugar, precisamos entender que trabalhar com adultos relativamente saudáveis exige outra abordagem. Geralmente um adulto não nos aborda dizendo que não consegue aprender. Suas queixas são outras e estão mais relacionadas em aumentar a sua qualidade de vida. 

As demandas de adultos e idosos em relação à Psicopedagogia, geralmente, trazem as seguintes queixas:

1. dificuldades de colocação no mercado de trabalho, que, muitas vezes, exige mudanças nas atividades profissionais e estudos mais avançados;

2. profissionais da Educação que vêm em busca de supervisão e tomam consciência da necessidade de um trabalho psicopedagógico;

3. pais que percebem como as dificuldades dos filhos são semelhantes às suas e sentem o impacto positivo da terapia nas crianças, procurando o mesmo para si;

4. adultos e idosos que são encaminhados por médicos ou por psicólogos, em virtude de problemas cognitivos ou dificuldades de aprendizagem resultantes de alguma síndrome (Down, dislexia, TDAH ou TDA) ou de alguma patologia que provocou sequelas.

5. adultos que sentem dificuldades de memorizar ou que querem potencializar sua memória para prestar concursos públicos ou aprender um novo idioma. 

A relação do ser humano com o conhecimento é o que o psicopedagogo vai avaliar durante um diagnóstico psicopedagógico:

• Como aprende?

• O que aprende?

• Por que aprendeu isso e não consegue aprender aquilo?

A estas perguntas, o processo diagnóstico deverá trazer algumas hipóteses.

Neste caso, também se parte de um diagnóstico, tentando identificar os processos e as estratégias de pensamento utilizadas pelo sujeito, seu comportamento diante da resolução de problemas etc., para poder ajudá-lo. 

O diagnóstico tem como objetivo compreender uma determinada situação, descobrir algo que se encontra presente em uma realidade qualquer. Isso garante ao processo uma condição de investigação, uma qualidade de pesquisa e a necessidade de seguir um método, como ocorre no campo das ciências em geral. Portanto, a realização de um diagnóstico exige o domínio do método científico regido por regras universais e baseado em raciocínios hipotético-dedutivos.

Etapas da avaliação psicopedagógica

Um diagnóstico psicopedagógico clínico não deve exceder a seis sessões de 45 minutos em média, tendo em vista a seguinte distribuição:

1. duas sessões para a fase de coleta de dados;

2. três sessões para a aplicação de instrumentos de avaliação psicopedagógica;

3. uma sessão de devolução.

Instrumentos Avaliativos

Entrevista livre 

Consiste em uma conversa informal com vistas a que o sujeito apresente a queixa que o levou a procurar o atendimento psicopedagógico. No adulto, a palavra ganha novo valor, semelhante ao da expressão lúdica na infância; expressa sua maturidade e racionalidade.

EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem 

Instrumento desenvolvido por Visca (1987) em sua teoria da Epistemologia Convergente. Trata-se de uma situação na qual o cliente é levado a mostrar o que sabe, aquilo que faz de melhor.

Frases incompletas 

A técnica das frases incompletas é uma adaptação psicopedagógica de testes psicológicos de personalidade em um enfoque comportamental e pode ser utilizada quando o adulto ou o idoso se mostra reativo a falar sobre suas temáticas ou suas dificuldades. As frases incompletas atuam como “disparadores” do processo terapêutico, pois oportunizam diálogos a respeito daquilo que se quer observar na fase de coleta de dados do diagnóstico. As perguntas podem ser adaptadas à idade e ao que se deseja conhecer sobre o sujeito atendido. A partir deste trabalho de autoria, o psicopedagogo poderá proceder à análise dos conteúdos manifestos e latentes com seu cliente ou após a sessão. A análise das respostas dependerá do embasamento teórico do profissional, do desenvolvimento de suas habilidades terapêuticas que poderão possibilitar-lhe transcender para os aspectos da vida de seu cliente que o levaram a procurar o atendimento psicopedagógico.

Testes projetivos psicopedagógicos 

Coletados e apresentados por Jorge Visca, é a melhor opção. As provas projetivas são utilizadas no contexto psicopedagógico com um meio de análise e depuração do sistema de hipóteses e devem ser aplicadas quando há suspeita de implicações emocionais ou vínculos negativos com a aprendizagem.

Teste investigativo para TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem hiperatividade é um quadro clínico caracterizado pela dificuldade em focalizar a atenção em atividades rotineiras, escolares e acadêmicas.

Estilo de Aprendizagem

Esse teste é importante para descobrir qual a via preferencial de aprendizagem do sujeito, de modo que facilitará o processo de intervenção.

Teste Token

O teste Token é um instrumento que se pode utilizar para a avaliação da linguagem em adultos e idosos, por sua fácil aplicação e por permitir a triagem entre aqueles que possuem ou não transtorno neurológico na compreensão, além de apontar deficiências na compreensão auditiva.

SESSÃO DEVOLUTIVA

A sessão devolutiva é a última etapa do processo diagnóstico, mas mantém relação com todo o resto. Por isso, quando chegar a este ponto, é preciso que, mesmo considerando que o processo não é fechado, que não contém conclusões definitivas, o que o profissional tem em mãos são hipóteses diagnósticas, que precisam estar muito claras a fim de que se possa elaborar um projeto de intervenção, caso haja necessidade.


What's Your Reaction?

divertido divertido
666
divertido
inspirado inspirado
333
inspirado
feliz feliz
2997
feliz
oh meu Deus oh meu Deus
1998
oh meu Deus
motivado motivado
999
motivado
gostei gostei
2664
gostei
Juliana Palma

Pedagoga e Ma em Educação. Especializada em Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Análise do Comportamento, Terapia Aba e Altas Habilidades. Acadêmica do curso de Nutrição na Universidade Estácio de Sá. "Descobri o TDAH aos 33 anos e hoje me dedico a ajudar outros adultos na avaliação e na intervenção do transtorno." Atendo de forma online, crianças, adolescentes, adultos e idosos do mundo todo, que buscam superar as dificuldades de aprendizagem nos estudos ou em sua carreira.

2 Comments

Leave a Reply

  1. Como posso entrar em contato com vc…sou neuropsicopedagoga e preciso de sua ajuda em atender um adulto com TDAH
    Obgda
    Me chamo Carolina Dias