Qual profissional devo procurar para fazer a avaliação do TDAH?
A avaliação do TDAH é complexa, por isso, é importante trabalhar com um profissional familiarizado com o TDAH ao buscar o diagnóstico.
O TDAH pode ser diagnosticado por meio de extensos procedimentos de entrevista, habilidades de classificação de comportamento e sintomas, observações de terceiros e obtenção de um histórico abrangente. Testes neuropsicopedagógicos e psicopedagógicos abrangentes podem trazer muitos benefícios, embora não sejam necessários para o diagnóstico. Os testes neuropsicopedagógicos podem ajudá-lo a aprender os meandros do seu perfil cerebral único, o que pode ser extremamente benéfico para aprender a viver bem com o TDAH após o diagnóstico.
Os testes neuropsicopedagógicos e psicopedagógicos também são fundamentais no processo de obtenção de testes acadêmicos, padronizados e acomodações no local de trabalho. Como o TDAH é um transtorno que está presente ao longo da vida, membros da família, cônjuges e professores (se aplicável) são frequentemente solicitados a fornecer observações de terceiros e escalas completas de classificação de comportamento para verificar o curso dos sintomas ao longo do tempo.
Quais profissionais devo procurar caso suspeite do TDAH?
Procure um psiquiatra, psicólogo ou neuropsicopedaogogo especializado em TDAH e desafios relacionados se quiser ser avaliado para TDAH.
No caso de crianças e adolescentes, o pediatra pode fazer um pré-diagnóstico, mas mesmo assim é provável que ele a encaminhe para um neuropsicólogo. E se a criança estiver em idade escolar, para um neuropsicopedagogo ou psicopedagogo também para ser feita a avaliação.
O diagnóstico do TDAH é clínico, e é realizado com base nos sinais e sintomas que o paciente apresenta (Arruda, 2006). Normalmente a criança é levada ao médico (pediatra, neuropediatra ou psiquiatra infantil) e será fundamentado nas informações, sintomas e comportamentos passados pelos pais, escola, e locais onde a criança convive.
Essas informações serão relacionadas e cruzados com os critérios diagnósticos (DSM-V e CID-10).
Apesar de ser um diagnóstico clínico, uma equipe multidisciplinar pode participar do diagnóstico e a intervenção será realizada por equipe multidisciplinar.
Como o neuropsicopedagogo ou psicopedagogo vai avaliar o sujeito com TDAH?
Puxando a sardinha para o meu lado, já que sou Psicopedagoga, Psicomotricista e cursista da pós-graduação em Neuropsicopedagogia, vou contar como fazemos a avaliação quando suspeitamos de um possível TDAH.
Entrevista e observação
Como os sintomas estão relacionados ao comportamento (impulsividade, hiperatividade, sociabilidade) e muitas vezes relacionados a aprendizagem (atenção, concentração e organização), é importante fazer uma anamnese (entrevista para conhecer mais sobre o sujeito) e momento lúdico com a criança, para observação, entrevistas, relatos da escola, e quando necessário, aplicação de escalas de avaliação.
Dessa forma poderemos observar como a criança brinca, como se comporta, como utiliza a linguagem, o raciocínio lógico para história e jogos, coordenação motora. Podendo assim, em parceria com médicos e outros especialistas dar um parecer sobre o que foi observado e registrado.
No caso de adultos, usamos jogos do tipo “jogo da vida”, para entender como o adulto se relaciona e soluciona problemas.
Exames e Escala SNAP- IV
Conforme descrito na avaliação clínica, existem várias escalas que podem ser utilizadas para o rastreio diagnóstico do TDAH. Abaixo será mostrado três tipos de escalas que podem ser utilizadas para esse rastreio, existem outras, mas agora aprenderemos sobre:
- SNAP- IV – A.B.D.A Questionário Escolar e familiar – Crianças e Adolescentes
- Escala de Avaliação de comportamento juvenis no TDAH em ambiente familiar (ETDAH- Pais)
- Escala de Autoavaliação do TDAH (ETDAH- CriAd)
- Escala de Autoavaliação do TDAH-AD (adultos)
SNAP-IV – A.B.D.A Questionário Escolar e familiar – Crianças e Adolescentes
(levantamento de indicativos de Transtornos do Déficit de Atenção e
Hiperatividade)
O questionário denominado SNAP-IV foi construído a partir dos sintomas do Manual de
Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiátrica.
Esta é a tradução validada pelo GEDA – Grupo de Estudos do Déficit de Atenção da UFRJ e pelo Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UFRGS.
IMPORTANTE: este questionário é apenas um ponto de partida para levantamento de
alguns possíveis sintomas primários do TDAH. O diagnóstico correto e preciso do TDAH só pode ser feito através de uma longa anamnese (entrevista) com um profissional médico especializado (psiquiatra, neurologista, neuropediatra). Muitos dos sintomas relacionados podem estar associados a outras comorbidades correlatas ao TDAH e outras condições clínicas e psicológicas.
Lembre-se sempre que qualquer diagnóstico só pode ser fornecido por um profissional
médico.
COMO AVALIAR:
1) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 1 a 9 =
existem mais sintomas de desatenção que o esperado numa criança ou adolescente.
2) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado numa criança
ou adolescente.
O questionário SNAP-IV é útil para avaliar apenas o primeiro dos critérios (critério A) para se fazer o diagnóstico. Existem outros critérios que também são necessários.
IMPORTANTE: Não se pode fazer o diagnóstico de TDAH apenas com o critério A!
CRITÉRIOS
A: Sintomas (vistos no quadro).
B: Alguns desses sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de idade.
C: Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos
diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa).
D: Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas.
E: Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos exclusivamente a ele.
Fonte: (escala snap-IV) http://www.tdah.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=13&Itemid=118&lang=br#sthash.5wT8rh7I.dpuf
Aluno _________________________________________________________________
Idade ______________________ Ano escolar _________________________________
Para cada item, escolha a coluna que melhor descreve o (a) aluno (a) (MARQUE UM X):
Nem um pouco | Só um pouco | Bastante | Demais | |
1-Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas | ||||
2- Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer | ||||
3- Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele | ||||
4- Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações | ||||
5- Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades | ||||
6- Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado | ||||
7- Perde coisas necessárias para atividades (ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros) | ||||
8- Distrai-se com estímulos externos | ||||
9- É esquecido em atividades do dia-a-dia | ||||
10- Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira | ||||
11- Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado | ||||
12- Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado | ||||
13- Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma | ||||
14- Não para ou frequentemente está a “mil por hora” | ||||
15- Fala em excesso | ||||
16- Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas | ||||
17- Tem dificuldade de esperar sua vez | ||||
18- Interrompe os outros ou se intromete (por exemplo: intromete-se nas conversas, jogos, etc.) |
Fonte: www.tdah.org.br
Escala de Avaliação de comportamentos infantojuvenis no Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade em ambiente familiar- Versão para pais (ETDAH- PAIS)
Fonte: sapiens-psi.com.br
Ficha Síntese (extraído do Manual: Escala de avaliação de comportamentos infantojuvenis no transtorno de déficit de atenção/ hipertatividade em ambiente familiar- versão para pais- de edyleine Bellini Peroni Benczik , ed Memnon, 2018)
Fator 1- Regulação Emocional |
É irritadiço (Tudo o incomoda) |
Tem fortes reações emocionais (explosões de raiva) |
Implica com tudo |
Explode com facilidade (é do tipo pavio curto) |
Muda facilmente de humor |
Dá impressão de estar sempre insatisfeito (nada o agrada) |
É rebelde (não aceita nada) |
É agressivo |
Sente-se infeliz |
Mostra-se tenso e rígido |
Faz birra quando quer algo |
Implica com os irmãos |
As atividades e reuniões familiares são desagradáveis |
Todos têm que fazer o que ele quer |
A hora de acordar e das refeições é desagradável |
Exige mais tempo e atenção dos pais do que os outros filhos |
Tem dificuldade para se adaptar às mudanças |
Faz amizades, mas não consegue mantê-la |
É sensível |
Fonte: ETDAH- PAIS (Benczik, 2018)
Fator 2- Hiperatividade/ Impulsividade |
É inquieto e agitado |
Movimenta-se muito (parece estar ligado com um motor, ou a todo vapor) |
Mexe-se e contorce-se durante as refeições e para realizar as tarefas de casa |
Tem sempre muita pressa |
Age sem pensar (é impulsivo) |
É inconsequente (não considera os perigos da situação) |
Intromete-se em assuntos que não lhe dizem respeito |
É imprudente |
Responde antes de ouvir a pergunta inteira |
Tende a discordar com as regras dos jogos |
Irrita os outros com suas palhaçadas |
É persistente e insistente diante de uma ideia |
Faz os deveres escolares rápido demais |
Fonte: ETDAH- PAIS (Benczik, 2018)
Fator 3- Comportamento Adaptativo |
É tolerante, quando preciso |
Aceita regras, normas e limites |
Parece ser uma criança/ adolescente tranquila e sossegada |
Obedece aos pais e as normas de casa |
É obediente |
Respeita normas e regras |
Faz suas tarefas e almoça com bastante tranquilidade |
Sabe aguardar sua vez ( é paciente) |
Seu comportamento é adequado socialmente |
Faz as coisas com muito cuidado, prevendo todos os riscos de suas ações |
A criança permite que o ambiente familiar seja tranquilo e harmonioso |
Fala pouco |
É atento quando conversa com alguém |
Consegue expressar claramente os seus pensamentos |
Fonte: ETDAH- PAIS (Benczik, 2018)
Fator 4- Atenção |
Evita atividades que exigem esforço mental constante (deveres escolares, jogos) |
Esquece rápido o que acabou de ser dito |
É distraído com quase tudo |
Tem dificuldade para realizar as coisas importantes (lição, por exemplo) |
Não termina o que começa |
Inicia uma atividade com entusiasmo e dificilmente chega ao final (é do tipo fogo de palha) |
Dá a impressão de que não ouve bem (só escuta o que quer) |
Parece sonhar acordado (estar no mundo da lua) |
Mostra-se concentrado apenas em atividades de seu interesse |
Dificilmente observa detalhes |
É independente para realizar suas tarefas de casa |
Ocorrem discussões entre os pais e a criança, em função da falta de responsabilidade e da falta de senso de dever |
Fonte: ETDAH- PAIS (Benczik, 2018)
Escala de Autoavaliação do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade- Versão para crianças e adolescentes (ETDAH- CriAd)
Fonte: memnon.com.br
Ficha Síntese (extraído do Manual: Escala de autoavaliação do transtorno de déficit de atenção/ hipertatividade em ambiente familiar- versão para crianças e adolescentes- de Edyleine Bellini Peroni Benczik , ed Memnon, 2018)
**Vide tabela que segue abaixo com as afirmações de cada fator ( Extraído de BENCZIK, 2018)
Instruções:
“ Leia com cuidado cada frase e anote a quantidade de vezes que cada situação ocorre com você, por pelo menos seis meses, considerando (1) Nunca; (2) Um pouco; (3) às vezes e (4) Sempre. Seja o (a) mais sincero (a) possível, lembre-se que não existe resposta certa. Somente a sua resposta é correta. Não deixe de responder nenhum item. Qualuer dúvida pode perguntar” (Benczik, 2018)
Fator 1- Hiperatividade/ Impulsividade |
Não consigo esperar o tempo suficiente para ter aquilo que quero |
Me chamam de agitado(a) (inquieto (a)) |
Sou teimoso(a) |
Tenho muita pressa para fazer as coisas |
Todos falam que sou barulhento(a) |
Quando percebo já falei ou fiz coisas erradas |
Dizem que falo muito |
Mexo e balanço as pernas, quando estou sentado(a) |
Eu me levanto da cadeira durante a aula |
Me movimento muito (me mexo muito) |
Não tenho paciência de esperar (por exemplo, filas) |
Vivo correndo, ou subindo nos sofás, ou em muros ou muretas |
Fonte: ETDAH-CriAd (B enczik, 2018)
Fator 2- Atenção |
Preciso de mais tempo para terminar as tarefas |
Presto atenção em outras coisas e me perco na lição |
É difícil pra mim, fazer os exercícios e as provas |
Minha mãe tem que me lembrar das coisas |
Para mim é difícil aprender coisas novas |
Meu caderno é desorganizado |
Erro nas lições por falta de atenção |
É difícil terminar o que começo |
Minhas notas estão ruins |
Me perco nos sinais das contas de matemática |
Fonte: ETDAH-CriAd (B enczik, 2018)
Devolutiva (informando o resultado da avaliação para os pais)
O momento da devolutiva é algo muito delicado, pois a maior parte dos pais não estão preparados ou não compreendem o que é o TDAH. Para alguns irá pairar a nuvem da culpa, se perguntando “o que eu fiz de errado?”, e não há culpados! Nesse momento precisa ser trabalhado o acolhimento à família, questionamentos respondidos, para que essa família (pois o TDAH atingirá a todos!), consiga compreender e realizar a intervenção da melhor forma possível!
Planejamento da intervenção
Ao ter o diagnóstico, a família deve ser acolhida e receber todas as informações, de forma detalhada sobre o que é o TDAH. As crianças e adolescentes também devem ser informadas conforme o entendimento e maturidade que possuem.
Nesse momento, a equipe médica verificará a necessidade de medicação. Se sim, qual será a mais indicada e em qual quantidade.
O próximo passo é o encaminhamento aos profissionais que realizarão os atendimentos, normalmente numa equipe multidisciplinar, pois a criança, pais e escola precisarão de apoio, acompanhamento e orientação. Assim, inicia-se o período de intervenção.
Estratégias para a intervenção:
- Treinamento dos pais (orientação)
- Escolha dos profissionais
- Orientação para a escola
- Medicação (medicação sozinha não resolve, mas faz parte do tratamento!)
Fonte: insightclinic.com.br
Intervenção multidisciplinar
Como o TDAH não é doença, e sim, um transtorno, não tem cura, dessa forma, medicação somente, também não resolve! Precisa-se de um tratamento, intervenção multidisciplinar, para que o indivíduo compreenda seu transtorno e saiba como viver com ele de forma leve, crie estratégias para que seu dia a dia transcorra de conforme planejado e ande de mãos dadas com seu TDAH.
Especialista/ TDAH | No que pode ajudar |
Psiquiatra/ Neurologista | – Diagnóstico – Prescrição e acompanhamento da medicação |
Psicólogo | – Fornecer terapia através de conversas e de forma lúdica – Identificar, avaliar e modificar pensamentos e comportamentos inadequados – Dar apoio e orientação aos pais – Fortalecer as funções executivas – Motivação |
Fonoaudiólogo | – Distúrbios na linguagem – Linguagem oral, leitura e escrita |
Especialista educacional (Psicólogo escolar, Psicopedagogo, neuropsicopedagogo, equipe escolar) | – Auxiliar na adaptação escolar – Metodologias de estudo – Auxiliar nas dificuldades de aprendizagem – Favorecer o desenvolvimento da atenção e organização – Auxiliar com a linguagem – Fortalecer as funções executivas |
Fonte: Arruda, Marco A. (2006) / Cavalcante, Jean Fco (2020)
A criança, adolescente ou adulto diagnosticado precisará de todos esses especialistas?
Não! Cada pessoa será avaliada pelos critérios diagnósticos, grau de TDAH, se há ou não comorbidades. Então será encaminhada para cada profissional que lhe ajudará a trabalhar suas potencialidades e dificuldades!
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